“Eu vim trazer fogo”

“Eu vim trazer fogo”

No início desta Semana Santa a opinião pública mundial foi fortemente abalada pela notícia do incêndio na Catedral de Notre Dame. Esta igreja, de mais de 800 anos, se encontra no centro de Paris e representa um símbolo da cultura ocidental cristã. Vale recordar especialmente que esta catedral é dedicada a Nossa Senhora e durante muitos séculos foi berço da evangelização na França e na Europa. O incêndio tem a sua origem, pelo que parece, num acidente, o que está sendo investigado para apurar as causas do mesmo.

Mas, fica a pergunta sobre o sinal e o significado desse incêndio. Penso que não é apenas uma casualidade que essa desgraça aconteça no início da semana na qual nós, os cristãos, estamos celebrando o mistério central e mais importante da nossa fé. Especialmente no contexto de uma Europa que tem negado oficialmente, nesses últimos tempos, as suas raízes cristãs nos documentos e princípios que a sustém.

Talvez Nossa Senhora queira nos recordar a nossa missão de nos incendiar novamente, de maneira radical, por Cristo e assumir a tarefa de sermos LUZ, mais ainda, de sermos FOGO que queima o que está frouxo e podre, para renovar a raiz da nossa cultura com aquela mesma paixão com que o Senhor proclamava a sua atuação, numa oportunidade ao dizer: “Eu vim trazer fogo à terra, e como desejaria que já estivesse acesso” (Lc 12, 49). Trata-se do fogo que deve purificar e abrasar os corações e que deve ser aceso na cruz. É o mesmo fogo do Espírito Santo que Jesus prometeu nos enviar para cumprirmos a sua missão. O atuar de Jesus na sua época não deixava ninguém indiferente. O compromisso e o vínculo com Jesus, que se alimentam na fonte viva que é a sua morte e ressurreição, nos convidam a revisar como está a nossa entrega e o nosso espírito missionário na esteira duma Igreja em saída.

O fogo associa algo arrasador, forte e radical. Em linha com esses significados do fogo, lembrei-me das palavras que o Pe. José Kentenich utilizou para descrever a sua maneira de atuar, o espírito que o movia. Ele procurava encarnar na vida um modelo de sacerdote que se caracterizava “pela sua paixão por Deus, pelas pessoas, pela época e pela missão” (Crônicas, 1957). Penso que essa descrição concisa do que orientava o seu atuar e o seu estilo de vida e de trabalho nos ajudam a entender o que significa sermos pessoas que acendem o fogo de Cristo na sua cruz esta Semana Santa e, assim, sermos portadores do seu fogo na terra: o fogo da paixão por Deus, pelas pessoas do nosso tempo e ambiente, pela época atual com as suas oportunidades e desafios, e a paixão pela missão de construirmos uma nova ordem social cristã.

Pe. Ivan Simicic

Diretor Nacional do Movimento Apostólico de Schoenstatt no Brasil

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